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  • Foto do escritorMonique Nascimento

O luto por Monique Nascimento


Hoje, ao acordar, me lembrei do processo do luto. Antes de tomar meu café da manhã, costumo regar minhas plantas. Acontece que, há um ano, eu nunca havia comprado flores para mim. Sempre que eu via uma flor bonita, especialmente orquídea, eu comprava para minha avó. Eu nem mesmo sabia cuidar de flores (ou achava que não sabia).


Em abril completaram 13 meses de sua partida. Minha avó, mulher forte e guerreira, faleceu ano passado em decorrência da covid-19. Eu a amava. Passava muito tempo com ela. Ia ao mercado, médico. Almoçava com ela mais de uma vez na semana. No início, as únicas lembranças que tinha eram dela no hospital. Com o passar do tempo, comecei a comprar flores e percebi que eu havia aprendido a cuidar delas com a minha avó.


Ontem em uma floricultura senti um cheiro que me remeteu a ela (memória olfativa que também é afetiva). Era de uma orquídea que dei a ela em um de seus aniversários. Senti saudades. Estava em uma floricultura, comprando flores em um domingo e as flores eram para mim. Hoje ao olhar para essa orquídea, que nomeei de Maria como minha avó, lembrei que quando o luto chega ao fim, nos permitimos sentir saudades e podemos passar a observar traços da pessoa em nós. Em cada cuidado com minhas flores, lençóis e toalhas com cheiro de amaciante, minha avó se faz presente no meu dia a dia e em mim.


Em luto e melancolia, Freud nos ajuda a percebemos o luto de maneira semelhante a essa que descrevi. Ou seja, vemos nessa obra que quando perdemos alguém, fazemos um trabalho para superar a perda. Isto é, passamos por um conjunto de ações psíquicas que introjetam no eu, simbolicamente, aquilo/aquele que foi perdido, e, com isso, podemos ter novas possibilidades para caminhar/seguir. É como se pegássemos o que a pessoa representa para cada um de nós e fossemos comprimindo até o ponto de se tornar algo que conseguimos “carregar conosco”, nos ajudando a produzir encontros ricos e desejantes no que se seguirá.


Isto não significa que nunca mais sentiremos dor ou tristeza por conta da perda da pessoa amada, mas que perceberemos que ela ou um traço dela, faz parte de nós e que nos autorizaremos a sentir saudades. Além disso, é possível nos distanciarmos da percepção enlutada do mundo enquanto um local pobre e vazio ou, em outros termos, é possível que nossa libido se desloque a outros objetos de amor.


Um grande abraço e um beijo!


Monique Nascimento

Pesquisadora junto ao Observatório da Realidade Organizacional UFSC, psicanalista e apresentadora do “Podcast Sujeito Cindido”.




Lane Lucena

🛋️ Autora

∞ Mãe da Carol, psicanalista, apaixonada pelas palavras. Desenvolvedora da metodologia que floresce pessoas por meio da escrita: Flor&Ser


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