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  • Foto do escritorLane Lucena

O divã e o trabalho terapêutico da psicanálise

Atualizado: 28 de jun. de 2021



O famoso divã foi um presente de agradecimento de uma paciente chamada Madame Benvenisti por volta de 1890, fazia parte da mobília do escritório de Freud. "Peça irremovível do cenário psicanalítico que nele persiste mesmo quando nele não está presente" – foi proferido por um paciente, conforme descrito por Sebnem Senyener, jornalista, em seu artigo “How the divan became the couch?“. Revela também o papel desse móvel – menos um mobiliário inerte, mais um interlocutor da dinâmica psicanalítica – que se tornou tão símbolo da psicanálise como o próprio Freud. Pode-se dizer mesmo que a psicanálise não se reconhece como tal sem o divã, em que pese a peça não ser exclusiva dos consultórios, nem ter “surgido” com o aparecimento da psicanálise. Esse lugar ocupado pelo divã no consultório não foi criado por acaso. Freud na sua prática logo percebeu que o paciente necessitava de algo que o preparasse a libertar a sua mente e, de preferência, sem o intermédio do olhar do terapeuta. O convite ao divã, feito pelo analista, representa uma espécie de contrato terapêutico. Promove o expressar livre dos conteúdos inconscientes. Isso porque existe uma ideia de cumplicidade entre analista e analisando. O paciente quando está deitado no divã nem sempre se encontra numa condição confortável. Muitos se sentem frágeis e vulneráveis não só por estarem deitados, mas por não terem a visão da face do analista.



Em que contribui a psicanálise? A prática da psicanálise nasce da necessidade do ser humano em ser amparado em seus aspectos emocionais, psíquicos e intelectuais em conflito. Os conflitos são desordens do aparelho psíquico que se manifestam como sintomas: medos, fobias, desinteresse, desânimo, a partir de neuroses: repetição de atos, que percebemos em nós - ou não, mas que nos aprisionam, por exemplo: compulsões, relacionamentos prejudiciais, comportamentos sabotadores, etc. A análise é indicada em quais casos? A psicanálise clínica não é um processo somente para quem é diagnosticado com algum transtorno mental. Ela é um método de autoconhecimento que leva a compreendermos melhor a nós mesmos, e assim, amadurecermos emocionalmente e vivermos sem muitos conflitos. Como a análise funciona? Na relação entre terapeuta (psicanalista) e analisando (paciente) forma-se uma relação pessoal de onde se pode interpretar o inconsciente do analisando, e assim prover a compreensão e conexão com o “Eu”. Na medicina, busca-se a eliminação de sintomas, no entanto, na psicanálise, a eliminação do sintoma é consequência da modificação na estrutura psíquica que deu origem ao sintoma. Ou seja, uma transformação na dinâmica psíquica na qual o paciente se submergiu, e que o faz sentir-se e viver angustiado consigo mesmo e com os outros (no sintoma). O que é o método psicanalítico? O trabalho psicanalítico clínico é um processo profundo de trabalho que visa compreender o "mecanismo" do nosso inconsciente, nossas motivações mais arraigadas, inconscientes, e assim, ambos, chegarem ao entendimento do sintoma. Na integração entre consciente e inconsciente - ou o lado objetivo e subjetivo, adquire-se o alívio dos sintomas. Todos nós temos uma história de vida, o cenário da nossa constituição enquanto sujeitos que somos hoje. Neste cenário, tivemos muitas relações preliminares - pessoas com as quais convivemos e aprendemos a ser e estar no mundo, dentre eles: pais, irmãos, professores, cuidadores, amigos, enfim: o meio social é crucial na análise, como também a cultura na qual estamos inseridos, e a história a qual construímos desde que nascemos. Como se estabelecem as sessões? No trabalho clínico atual, as sessões tem duração de 50 minutos, e a frequência vai depender da necessidade do paciente. A sessão é estabelecida junto com o paciente. De um modo geral, a sessão segue, de um lado, as expectativas do analisando, e de outro, as linhas de trabalho do terapeuta, além dos objetivos e etapas do trabalho. Aspectos como religião, cultura, hábitos de vida são respeitados particularmente. Qual a duração do tratamento? Na análise, diferente de práticas de aconselhamento, leva-se o paciente a tomar suas próprias decisões, a estar mais consciente de suas escolhas, e a agir com o livre-arbítrio, espontaneidade e autorresponsabilidade. O trabalho analítico é um compromisso de longa duração - muitas vezes existem resistências para iniciá-lo, levando em consideração a necessidade que temos de sermos imediatistas. Para se conseguir resultados mais profundos e eficazes, é necessário tempo e dedicação. A análise pode me ajudar com problemas pontuais ou específicos? Como se recomenda a psicanálise, é preciso ter em mente que a aceitação da análise, é um "acordo" consigo mesmo, com sua maturidade emocional e psíquica, e que nunca é tarde para se começar, deveria ser o mais breve possível. Deve-se ter consciência que não se pode transformar tão rápido uma coisa que "criamos" e sobre a qual vivemos alimentando desde nossa infância. Por isso, a duração de um tratamento em psicanálise é indeterminado, está sujeito ao fluxo do processo e das necessidades individuais de cada um. Vale a pena investir na minha análise? Para a psicanálise, mensurar o valor do processo analítico é muito difícil. Na primeira sessão, analista e paciente assumem um "contrato", ou seja, os princípios sobre os quais se seguirá o acordo entre o analista e o paciente. Definir o valor a ser investido, envolve aspectos únicos, principalmente do processo analítico, abrange simbolicamente a mostrar o valor que se produz de si mesmo, ou o compromisso que se aspira assumir em favor de si, de almejar ou não a análise, da sua resistência em não mudar.


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Lane Lucena | Psicanalista Clínica

Pós-graduada em comportamento organizacional e gestão de pessoas, especializações em psicopedagogia clínica e psicologia e saúde mental. Realiza tratamento psicanalítico do sofrimento psíquico em geral, tais como: fobias, ansiedades, depressões, obsessões, impulsos auto e heteroagressivos, angústias e psiconeuroses. Atende desde crianças, adolescentes, casais, adultos e idosos,

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